archives of global protests

Nós estamos vencendo???
by Luciano Pereira 2:26pm Wed Apr 25 '01
do_contra@hotmail.com
do nossso otimismo inicial ao nosso futuro difícil


Québec: o muro

50.000 pessoas derrubaram em Seattle a OMC e sua "Rodada do Milênio", a qual buscava desenvolver o Acordo Multilateral de Investimentos. Embora as mobilizações (o M16 em Genebra, o J18 em Londres) e um novo discurso(os manifestos poéticos do sub Marcos) sejam um marca do fim dos anos 90, foi em Seattle que o movimento despontou para o mundo, trazendo uma nova esperança e isto já com uma vitória: o colapso da reunião da OMC. De uma época de resignação e desolação para uma manifestação riquissíma que pixava nos muros "Nós estamos vencendo", há uma distância muito grande. A próxima data foi o A16, por ocasião do encontro do FMI e do Banco Mundial em Washington, quando a polícia invade os centros de informação e treinamentos na madrugada do dia de manifestação e prende muita gente, mesmo assim, não podemos dizer que a reação tenha empatado o jogo, pois nas ruas a nova coreografia dizia que o movimento viera para ficar. Passando por Seul, Bolonha e Melbourne um novo turbilhão chacoalha o planeta; e o S26 realmente foi o ponto culminante, o maior dia de ação global que se conseguiu, mais ou menos 140 cidades em mais de 40 países disseram ao mundo, mesmo que subliminarmente, que o capitalismo está nos conduzindo para o fundo do poço, ainda que nos convide, sistematicamente, para dar um grande salto à frente.

Acredito que uma característica inédita de nosso movimento não seja nem a crítica ao Estado nem ao mercado, isso já existe desde o século XIX, mas a critica ao desenvolvimento, que pode ser vista na rejeição à ciência, por ex. à engenharia genética; a rejeição ao reformismo racional, por ex. o conteúdo de classe da tecnocracia; na percepção que a manutençao desse sistema levará ao colapso ecológico; e a negação do desenvolvimento econômico em si, pois ele já não é capaz de fazer generalizar um padrão de vida (american way of life) e universalizar direitos, pelo contrário, a reprodução do sistema se dá pela criação da desigualdade social tanto no ambito intraestatal quanto no sistema interestatal como um todo. Como a realidade concreta da economia mundo capitalista nos dá argumento de sobra e como de fato vinhamos sendo bem sucedidos, a impressão crescente era só plantar que um dia íamos colher.

Entretanto, em janeiro, a repressão em Davos é alarmante, simplesmente não se conseguia chegar até a cidade dos Alpes. Simultaneamente, se confirmava que a próxima reunião da OMC seria em Qatar, um país no qual é proibido se manifestar , ao passo que, o estado canadense construía outro muro em sua cidade medieval (globalização é isso, se moderniza, mas também se volta às praticas pré-modernas v. Arrighi, O Longo Século XX). Somando-se a isso, há um erro interno, nosso, do próprio movimento, que é, ao meu ver, a proliferação de Dias de Ação Global, pois com isso se perde em obejetividade e impacto mesmo na mídia. Por exemplo, enquanto o continente americano protestou, ou pelo menos deveria, no dia 20 de Abril, a Europa irá protestar no primeiro de maio, cujo epicentro será em Londres.


(Molotov-)Coctail Party (Québec)

Me pergunto porque as 90.000 pessoas no sábado em Quebéc não acabaram com aquela porra de Cúpula. Sem falar, no fracasso que foi o A6 em Buenos Aires e nisso não vai nenhuma arrogância minha, pois essa avaliação é de um amigo da primaveradepraga. É certo que a repressão tem aumentado, por ex. o deslocamento transfronteira de ativistas tem sido dificultado, a quantidade de policiais e a nova tecnologia repressiva (em Québec havia um jato que lançava um líquido colorido não visível a olho nu para posterior identificação dos ativistas linha de frente), a nova legislação anti-terrorista do sul da Europa, que na verdade foi elaborada para enquandrar ativistas anit-corporação têm dificultado novas vitórias, mas sendo assim temos que rever nosso otimismo inicial.

Sobre nos brasileiros, a pergunta básica a se fazer é: progredimos em relação a o S26?

Infelizmente acho que não. Quantas pessoas tinhamos a mais no A20? Eu chutaria umas 200, o que acho pouco. Desse novo contingente, a faixa etária era de 20 anos. Nossas manifestações é composta, em sua maioria, de jovens brancos, secundaristas e universitários, classe média e média-alta, cujos pais certamente têm curso superior. A grande falta, tal como no S26, foi a periferia e o movimento RAP, outras causas como ONGs clássicas, como o movimento gay (aliás no Brasil os gays parecen ser bastante consumistas, ou seja estão no polo oposto) ainda não deram as caras para protestar. Sindicatos, partidos (é besteira temê-los) e entidades estudantis, tais como a UNE, UBES e UMES estão definitivamente de fora, isso por livre e espontânea vontade deles.


A20 São Paulo

Ressalva ao DCE-USP que se fez presente. Se por um lado isso é bom, pois podemos fazer a coisa do nosso jeito, por outro lado é ruim pois ficamos sozinhos!!!

Sob um outro aspecto, esta claro que o A20 regrediu em relação ao S26. Neste tivemos manifestações em S. P., Campinas, Piracicaba, B.H., R.J., Belem, Fortaleza, Brasília e, em uma cidade do R.S. que não recordo agora. Pois confesso que tinha a impressão, tempos atrás, que os Dias de ação iriam crescer e se fazer presentes em milhares de cidades. No A20 só ouvi falar de uam manifestação em Brasília, se estiver errado, o que gostaria muito, por favor, me corrijam.

Principal erro nosso foi ter ocupado a paulista, discordo portanto do relato jornalistico do http://www.midiaindependente.org pois lá é dito que isso não chegou a acontecer.
Ação direta no Brasil é mais difícil.

P.S.: Não há nenhuma repercussão nos IMC sobre a brutal repressão policial no A20 paulista. No IMC Quebec, não há nada em especial, aí galera precisamos fazer isso repercurtir mundialmente.

Luciano Pereira


A20 (inglês)
A20 (português)
A20 São Paulo (en)