O afluxo de dezenas de milhares de participantes caracterizou ontem o segundo dia de contestação à cimeira do G8 em Evian, concentrados sobretudo em Genebra e Annemasse (sudeste da França, arredores de Evian), nos dois lados da fronteira franco-suiça. Para amanhã, dia do início oficial da cimeira que vai reunir os líderes das sete potências mais industrializadas do mundo e a Rússia, está previsto um desfile, num dos momentos mais significativos da contestação à reunião dos "senhores do mundo".
Perto de aeródromo de Annemasse, onde estão acampados muitos dos contestatários, funcionam a Cidade Intergaláctica (VIG) e a Cidade Alternativa Anti-capitalista e Anti-guerra (Vaaag), abertas a "todas as forças que defendem uma globalização alternativa". As conferências da "Cimeira para um outro mundo" (Spam), que incluem os mesmos temas agendados para os chefes de Estado, começaram na tarde de quinta-feira, enquanto decorreu em Lausanne (Suiça) a primeira manifestação, que integrou cerca de 12 mil pessoas (quatro mil segundo a polícia). Apesar da diversidade das organizações presentes, une-as um denominador comum: o que definem como a "falta de legitimidade democrática" do G8.
O cortejo de Lausanne decorreu quase sem incidentes e serviu de barómetro para o grande protesto de domingo com início simultâneo em Genebra e Annemasse, que de acordo com estimativas da AFP não deverá mobilizar as 300 mil pessoas inicialmente previstas. Os manifestantes denunciaram o "G8 colonialista", exigiram o "fim da ocupação imperialista no Iraque" e recuperaram uma das suas palavras de ordem preferidas: "Eles são oito, nós somos milhares".
Uma manifestação que também constituiu a primeira acção dos membros da Amnistia Internacional (AI), que vão acompanhar todos os protestos para detectar abusos policiais ou acções violentas dos contestatários. Pelo menos 23 mil polícias, apoiados por helicópteros que sobrevoam constantemente a "contra-cimeira" do G8, foram mobilizados para as regiões mais sensíveis da França e Suiça.
Tema central da presidência francesa do G8, a água também constitui um dos principais debates programados pela alternativa Spam, na qual os representantes dos países do Sul que foram convidados optaram por defender o livre acesso das populações mais desfavorecidas a este recurso decisivo.
"Ainda hoje, não têm acesso a água potável 1,5 mil milhões de pessoas no mundo, e cerca de dois mil milhões não têm acesso ao saneamento básico", recordou a Spam na introdução ao debate que hoje deve decorrer em Annemasse. Segundo números da Organização Mundial de Saúde (OMS), 30 mil pessoas, incluindo seis mil crianças, morrem diariamente por terem consumido água não potável.
A coincidir com a cimeira do G8, uma sondagem Ipos e hoje divulgada pelo "Le Monde" refere que cerca de um europeu ou de um norte-americano em cada dois não tem "confiança" nos participantes na reunião que começa amanhã e que decorrerá em Evian. Os inquiridos desconfiam sobretudo da capacidade dos líderes do G8 em "encontrar boas soluções para os problemas que vão ser discutidos".
Segundo a sondagem, realizada em oito países (Alemanha, Canadá, Espanha, EUA, França, Itália, Reino Unido e Rússia), 52 por cento dos cidadãos dos países europeus declararam-se "desconfiados", um número que atinge os 50 por cento nos Estados Unidos, 49 por cento no Canadá e 29 por cento na Rússia.