Os campesinos na Bolívia rompem o silêncio e se levantam em armas. Felipe Quispe, principal dirigente da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores do Campo da Bolívia (CSUTCB) disse hoje que os aimaras estão segurando em armas em devesa da terra, território e do gás natural.
Em declarações ao programa Paralelo 21 da Rádio Universidade de Guadalajara, México, Felipe Quispe assegura que os aimaras estão segurando em armas e adverte que o altiplano pode se tornar uma zona de guerrilhas.
"Nós, aimaras, somos originariamente donos do território. Temos que reclamar que fique em nossas mãos, por isso vamos cultivar a autodeterminação da nação aimara nas zonas onde estamos armados. Porém não iremos negociar. Vamos manter nossa posição revolucionária, uma posição radical". O dirigente fez essas declarações aos jornalistas Paulina Castro Cerruti e Jorge Souza, apresentadores do programa Paralelo 21 transmitido pela Rádio Universidade de Guadalajara, no México.
"No sábado anterior, quando estávamos abrindo diálogo com o ministro da Agricultura, Guido Añez, e o vice ministro do Governo, José Luis Harb, quando preparávamos a agenda para o diálogo, o ministro da Defesa (Carlos Sánchez Berzaín), estava dirigindo o combate em Warisata. Neste dia tivemos que romper o silêncio e abrir fogo pela primeira vez contra nossos opressores" disse o dirigente.
No sábado, uma operação de "resgate" de turistas, cujo retorno foi impedido pelo bloqueio campesino na província de Omasuyos, a uns 90 quilômetros ao norte de La Paz, deixou um saldo de seis mortos, cinco campesinos e um policial-militar, tendo sido dirigida pelo polêmico ministro da Defesa. O enfrentamento em Warisata ocorreu enquanto, depois da primeira mobilização da chamada "guerra do gás", Quispe se reunia com o ministro da agricultura Guino Añez, para acordar a suspensão do bloqueio.
"Toda a zona da província Omasuyos está em armas. Warisata, toda está armada (...) para voltar a ser o que tínhamos sido nos tempos imemoriais. Os brancos e mestiços têm que nos respeitar neste país, porque são inquilinos, mas governam", disse o dirigente em tom nacionalista.
"Temos trabalhado em algumas zonas preparando as pessoas pouco a pouco. Daqui a algum tempo, poderíamos nos tornar como os irmãos zapatistas de Chiapas, no México, ou como as FARC, na Colombia, ou ainda como outras organizações revolucionárias que pensem que se pode tomar o poder político através das armas" acrescentou Quispe.
Segundo ele, instrutor do bloqueio de ruas no altiplano paceño deixando sem abastecimento os mercados da sede governamental, os indígenas aimaras recorrerão aos dois braços do movimento campesino: um legal, constituído pelo Parlamento através dos cinco deputados do Movimento Indígena Pachacuti (MIP) e o outro, o braço mobilizador, que atua nos caminhos, e que é "a Bolivia clandestina", com o qual controlam quase a totalidade das províncias.
Depois dos enfrentamentos, os canais de TV mostraram imagens de centenas de campesinos gritando "guerra civil, agora sim". Alguns dos manifestantes empunhavam velhos fuzis mauser que os historiadores garantem terem sido distribuídos pelo MNR, partido do atual presidente, durante os anos 50, quando os campesinos se converteram em um dos pilares do governo de Victor Paz Estenssoro.
Contudo, Quispe, acrescentou que para evitar o massacre do governo, os campesinos sabem quando dar passos para trás, e neste sentido, permitiram a saída de viajantes à zona de Luquisani na província de Muñecas, que se encontravam no local por vários dias impedidos pelo bloqueio das estradas que persistem na região, mas sem a intervenção do governo.
Gás para os indígenas.
Segundo o dirigente que luta pela nacionalização dos recursos hidrocarburíferos, "o gás natural deve ser nacionalizado, deve passar às mãos dos indígenas, industrializado na chamada Bolívia e então vendido a outros países"
Consultado acerca da oposição à venda do gás pelos portos chilenos, Quispe disse que aprendeu a ser antichileno nos quartéis militares onde se presta o serviço obrigatório. "Nos quartéis nos faziam gritar - viva Bolivia, muera Chile". Por isso nos opomos à saída do gás pelo Chile, muito menos pelo Peru. Primeiro deve ser distribuído na Bolívia" acrescentou.
Consultado sobre um possível encontro com autoridades do governo para gerar condições de diálogo, Quispe disse que antes se deve ordenar que dupliquem os efetivos militares e policiais que controlam as ruas e liberar todos os campesinos que foram presos e tomados na qualidade de presos políticos.
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