Sobre a repressao em Porto Seguro Segunda-feira, 24 de Abril de 2000 500 anos depois da primeira invasão e exclusão, a repressão continua a mesma na Bahia e no Brasil! Segue abaixo um ponto-de-vista individual. A ida, o acampamento, os protestos, a repressão. Tudo para tentarmos entender o que lá se passou. Na ida para Porto Seguro ja se esperava que o clima fosse hostil em relacao a qq caravana q se dirigisse para la. Na sexta-feira, dia 21, havia mais de 12 barreiras antes de Porto Seguro. No entanto, o q se viu foi PMs, em sua maioria, muitos educados, fazendo uma revista soh pra ingles ver, e ateh desejando boas festas e diverssoes. Muito estranho, mais chegando ao local do acampamento, em Sta Cruz de Cabralia, algumas pessoas diziam que eles estavam cordiais porque nao tinham recebido um tal auxilio, dai dava pra acreditar. No acampamento alguns, empolgados antes da hora, diziam q a PM ate nos apoiaria na manifestacao. Porem nao era isso que se via no acampamento. A todo instante, sobrevoavam helicopteros e carros da PM passavam observando a situacao. Nessa altura, chegou-se a pensar em ir para Porto Seguro (PS) a noite de sexta-feira porque seria feito novas barreiras pela manha e ninguem entraria em PS. Felizmente essa ideia foi abandonada (se saissemos a pancadaria comecaria a noite) e no acampamento foi decidido sair pela manha, as 6h, se encontrar com os indios que estavam na Conferencia Indigena a uns 3 km dali, e ainda pela manha, marchar juntos com eles ate a tal cruz inoxidavel, um local onde construiram varias edificacoes comerciais para os indigenas, desapropriaram casas e deram de presente aos pataxos, os quais sao a maioria na regiao. Por ai se tem uma ideia de que lado os nativos estavam. Pela manha do sábado, dia 22, comecou-se a desmanhar o acampamento, observados pelos helicopteros. Pela primeira vez numa manifestacao tinha-se decidido sair pacificamente, tentar nao revidar provocacoes - que eram muito esperadas, e soh em ultimo caso partir para o contrataque, caso fossemos reprimidos. Mal deu para sair do acampamento e pegar a rodovia, que ficava a uns 2 km, e andar uns 100m. A policia comecou a passar pela lateral e ir em direcao a frente da marcha. Parecia apenas que iria nos acompanhar, mas chegou a frente e ja foi jogando bambas de efeito moral, gas lagrimogenio e atirando balas de borracha. Todos de dispersaram. Foi pedido calma, mas eles continuavam a reprimir. Duas pessoas tentaram negociar com o comandante que liderava a repressao, mas ele parecia dopado, com os olhos em uma unica direcao, querendo apenas guerra. Falava-se com ele e parecia nao ouvir. Apenas gritava: atacar! e os soldados recomecavam a jogar mais bombas, mais gas e mais tiros. Com isso, a tentativa de contratacar parecia em vao, pois nao parava de chegar onibus com mais e mais soldados tanto da PM como do exercito. Todos correram em direcao a vila dos pataxos que comerarm a nos provacar e nos chamar de Sem Terra. Correram atras dos manifestantes com pedacos de paus e nessa altura era inevitavel revidar as provocacoes dos nativos que eram indios e mestiços. Nesse momento, um negro nativo, que os jornais chamaram de indio, tentou atacar uma menina com um pedaco de pau e levou uma pedrada na cabeca de um outro manifestante. Ai a confusão se generalizou ainda mais. Tinhamos que correr tanto da policia como dos nativos. Muitos tentavam ir em direcão ao local da Conferencia para se proteger mais os seguracas nao deixaram e falavam que a confusao era nossa e nós que tinhamos que resolver. Foram momentos muito tensos. Todos se dispersaram em várias direções. Um grupo ficou preso numa entrada da Conferencia pelos indios e pela policia, mas logo foi libertado. Outras pessoas, como eu, se esconderam em pousadas. A policia começou a fazer um cerco na regiao e prendeu arbitrariamente um grupo de 130 pessoas na praia. Esses permaneceram presos, sob chuva, às margens da rodovia a manhã inteira. Mais tarde foram levados à delegacia onde depois de muita negociação foram liberados às 15h. O intuito era mantê-los presos para que a atenção dos manifestantes se voltassem para os presos e não para as descomemorações. Ao meio dia, os indios que estavam na Conferencia se dirigiram para PS, passaram pelos presos sem ao menos fazer qualquer tipo de ato, e logo a frente foram recebidos pela policia da mesma forma que tinhamos sido recebidos pela manhã: bombas de efeito moral, gás e tiros. Sem jeito para negociação. Alguns indios tacaram flexas e quebraram um carro da PM. Foi novamente o mesmo corre-corre da manhã. Muitos tentaram se refugiar numa pousada onde a policia jogou uma bomba de gás lagrimogênio e manteve as pessoas presas nela até o mesmo momento em que as outras, presas pela manhã, foram libertadas. Dispersado todos, alguns poucos indios se dirigiram aonde ainda se encontravam os 130 presos e fizeram discursos antes esquecidos. Dava pra perceber que os indios estavam rachados: uns queriam entregar um documento ao presidente outros não. Poucos queriam se unir aos estudantes, negros, anarquistas, punks, trabalhadores, etc (os Sem Terra não consequiram chegar lá), e a grande maioria não. O que se percebe é que os indios achavam que seriam melhor ouvidos pelos governos se estivessem sozinhos, numa atitude corporativista e desunida, esquecendo que os problemas do povo brasileiro não são de apenas um grupo, mas de toda a sociedade. Parece que eles foram (ou cetamente) o tempo todo manipulados pelo CIMI (Orgao da igreja catolica que organizou a Conferencia) e pelos governos que tentaram comprá-los fazendo obras pela região pataxó em Cabralia, Corroa Vermelha e PS. Também tiveram os mesmos problemas aqueles que tentaram chegar em PS no sábado. Ninguém podia entrar de ônibus, nem de carro, nem a pé, nem quem ia apenas fazer turismo. Parecia uma cidade em estado de sítio (e de fato estava). Dai todos foram para a rodovia a mais bombas, mais gás. Assim era como a policia agia. Em todas manifestações que ja participei nunca tinha visto tamanha repressão. O Governo poderia tentar mostrar que 500 anos depois alguma coisa tinha mudado pelo menos para inglês ver, tentar não fazer uma festa aos moldes do colonizador. Mas não, preferiu agir da mesma maneira que outrora fomos massacrados pelos portugueses. Excluindo o povo, os índios, os negros. Foi ridiculo colocar mais de 1000 pessoas acampadas numa regiao em que o governo tinha dado um cala-boca aos indigenas e não ter contactado a comunidade antes para esclarecer-los. Praticamente nenhum nativo sabia quem, e porque estavamos acampados ali. Nao deu nem tempo de nos explicarmos o porque ali estavamos. Sem contar que devido o local ser no meio do mato, muitas pessoas ficaram em pousadas longe dali e nao puderam chegar a tempo da marcha. Outros, que chegaram no sabado, tambem nao puderam entrar em PS. Deveriamos ter resistido mesmo no Centro de PS desde sexta-feira onde talvez seria mais dificil a acao da policia devido aos turistas. Mas agora sao Outros-500. Obs1: Ateh as 22h do sabado ainda havia pessoas presas individualmente pela policia que não tinham sido soltas e muitas outras desaparecidas. Obs2: Embora este seja um ponto de vista individual, muitas pessoas compartilharam a mesma opinião no local. Se alguém tiver pontos diferentes que compartilhem. @-Abracos,