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Termina ocupação em Goiânia

SEM-TETO Aug 27 2002 http://brasil.indymedia.org/

As famílias acampadas no terreno da Agência de Habitação do estado de Goiás desde 26 de agosto desocuparam a área na última quinta feira, 05/09. A ocupação organizada pelo Movimento Terra, Trabalho e Liberdade tinha aproximadamente 150 barracos e terminou sem confronto mas sob pressão da Agehab e da polícia militar para a execussão da liminar de reintegração de posse vencida na quarta-feira. A Agência já tem planos para a área e a julga inadequada para loteamento. Para que as famílias deixassem o local, o vice governador do estado, o secretário e o diretor administrativo da Agehab e o presidente da Câmara de vereadores de Goiânia assinaram um protocolo se comprometendo a fixar as famílias que estavam acampadas e que não possuem terrenos no prazo máximo de 90 dias. Além disso, 40 famílias que não tinham para onde ir tiveram permissão da agência para acampar em outro local da cidade. O movimento considera o acordo uma vitória política mas pretende continuar mobilizado para garantir seu cumprimento.

1 Famílias ocupam área em Goiânia
2 Relato da ocupação
3 Estratégia da polícia contra os ocupantes
4 Luta, educação e a ocupação de sem-tetos em Goiânia


Famílias ocupam área em Goiânia

by CMI-Goiânia 9:13am Mon Aug 26 '02 (Modified on 8:40pm Fri Sep 6 '02)
http://www.midiaindependente.org/front.php3?article_id=35140

Famílias ocupam área de 3 alqueires no conjunto Vera Cruz II em Goiânia.

Cerca de 70 famílias sem-teto ocuparam nesta madrugada, por volta das 3 horas da manhã, uma área de aproximadamente 3 alqueires localizada no conjunto Vera Cruz II em Goiânia. A ação foi organizada pelo Movimento Terra Trabalho e Liberdade(MTL). A área era usada por terceiros para plantio de pastagens. Segundo informações de um de nossos voluntários a polícia esteve no local por volta das 5:00 da manhã, os ocupantes resistiram, forçando-os a recuar. O número inicial de famílias que participariam da ocupação era de 200, mas informações vazaram para um jornal da capital, o Diário da Manhã, que as publicou um dia antes da ocupação, avisando assim a polícia, que rondava a área por volta da 1:30 da manhã. Esse fato intimidou várias famílias que não participaram da ocupação inicialmente mas que agora estão se juntando as demais. Será cobrado do governo estadual a elaboração de um plano habitacional.


Relato da Ocupação em Goiânia

by CMI-Goiânia 1:18pm Tue Aug 27 '02 (Modified on 4:03pm Mon Sep 9 '02)
http://www.midiaindependente.org/front.php3?article_id=35220

Relato da ocupação no Conjunto Vera Cruz II no município de Goiânia.

Na madrugada do dia 26 de agosto, 70 famílias ocuparam uma área de três alqueires no Conjunto Vera Cruz II, Município de Goiânia. A área já havia sido ocupada há dois meses atrás por 30 famílias, que se encontrando desorganizados, não conseguiram resistir. Estes primeiros ocupantes contactaram o MTL (Movimento Terra Trabalho e Liberdade) para planejarem uma ação organizada. A partir daí, realizaram a mobilização de variadas famílias de bairros próximos da área e variadas reuniões para definir a estrutura organizacional do movimento, estratégias de ação e princípios.

Alguns pontos de apoio (casas de moradores da região) entraram em ação para servir como ponto de abastecimento, contato e aglutinação do movimento. Destas casas de apoio, saíram as famílias marchando em fila e em silêncio em direção a àrea. Às três horas da manhã, a área da Agência de Habitação (AGEHAB) fora ocupada e em poucos minutos variadas barracas se levantaram. A polícia passou duas vezes pela área e foi intimidada pela organização e disposição de luta dos sem-tetos, que unidos se aproximavam com paus e enxadas na mão.

Pela manhã, a polícia impôs um cerco à ocupação visando cansar os ocupantes. Não entrava comida e água na ocupação e muito menos novos ocupantes. Esta estratégia obrigou o movimento a se organizar ainda mais. Linhas estratégicas de cominucação com famílias sem-tetos da região e de abastecimento da ocupação foram criadas, comissões que viabilizavam a segurança dos ocupantes e dos semtetos que estavam a caminho da ocupação, negociações com a polícia para que os caminhos de acesso à ocupação fossem liberados. Mesmo com a truculência da polícia, a manhã foi de lutas e vitórios para o movimento. Novos grupos de sem-tetos conseguiram chegar à ocupação, assim como a comida e a água na ocupação foi o suficiente para manter a resistência.

As negociações e a luta propiciaram novas vitórias pela tarde. A polícia somente faria a ronda da área retirando a sua mobilização intensiva. Isto se deu, em grande parte, devido ao conflito que se estabeleceu entre o Estado e o Município. A área estadual era fiscalizada pela "Fiscalização Municipal Urbana", mas nem o Estado nem o Município querem se responsabilizar pelo problema.

Resistiram por mais um dia!!!


A estratégia da polícia contra os sem-tetos da Ocupação de Goiânia

by CMI-Goiânia 1:12pm Fri Aug 30 '02
http://www.midiaindependente.org/front.php3?article_id=35369

A ação dúbia da polícia contra os sem-tetos da Ocupação no Conjunto Vera Cruz II, município de Goiânia.

A estratégia da polícia contra os sem-tetos da Ocupação de Goiânia

A ação da polícia na ocupação de sem-tetos do conjunto Vera Cruz II, município de Goiânia, foi dúbia. Por um lado, as conversas com o movimento foram bastante amigáveis. Por outro, a ação repressiva foi efetiva. É comum em Goiás o posicionamento aparentemente amigável da polícia. Primeiro, ela diz estar do lado dos ocupantes, busca compreender as intenções e estratégias do movimento. Paralelamente, ela aplica a sua estratégia repressiva. Na ocupação do conjunto Vera Cruz II, as intenções da polícia foram, primeiramente, a de não deixar com que aumente o número de sem-tetos na ocupação, o que aumentaria a força de combate dos oprimidos, em segundo lugar, a de provocar cansaço e desânimo nos ocupantes. Para chegar a estas intenções, a polícia utilizou como estratégia o isolamento da ocupação, não permitindo o abastecimento de comida, água e, muito menos, a chegada de novos sem-tetos, havendo inclusive a agressão física contra ocupantes que vagavam pelas redondezas da ocupação.

A estratégia da polícia não teve grandes êxitos graças à organização dos sem-tetos, à maravilhosa capacidade que possuem de driblar a polícia e às ajudas dos moradores da região. Mais uma vez, a auto-organização e resistência do povo oprimido foi capaz de fazer avançar as vitórias contra os inimigos.


LUTA, EDUCAÇÃO E A OCUPAÇÃO DE SEM-TETOS EM GOIÂNIA

by Rafael (voluntário do CMI-Goiânia) 1:47pm Fri Aug 30 '02 (Modified on 9:12pm Fri Aug 30 '02)
http://www.midiaindependente.org/front.php3?article_id=35371

A ocupação de sem-tetos do conjunto Vera Cruz II é um exemplo que a luta e resistência popular geram processos educacionais fundamentais para a formação de uma consciência popular revolucionária

A experiência da ocupação dos sem-tetos da ocupação do Conj. Vera Cruz II, município de Goiânia, nos faz resgatar o debate acerca da educação popular. Será importante resgatar um antigo princípio dos movimentos de luta popular: "A luta educa!". A ocupação de uma área com o objetivo de obter moradia gera diversos processos educacionais informais que agem sobre a consciência popular dos sem-tetos. O próprio ato da ocupação já requer uma tomada de consciência frente a questão da propriedade privada. Ao ocupar é necessário justificar a ação, o que pressiona a formação de um ideário mental novo que legitima a ação efetivada. Foi comum na ocupação, em espaços informais, o debate acerca da propriedade privada, e dizeres por parte dos sem-tetos tais como: "Deus deu a terra para todos, o homem é que a dividiu entre alguns", ou "Na época dos judeus não tinha essa coisa de dividir a terra".

A ocupação por pessoas que possuem uma mesma condição de vida e que estão em uma mesma luta, brigando por uma mesma causa, usando as mesmas estratégias para conseguir os mesmos objetivos, propicia uma elevação da solidariedade dos sem-tetos. O "sentir companheiros" é de fato concretizado por grande parte dos sem-tetos que passam a solidarizar o café, a água, a janta, panelas, garfos e o esforço físico na construção de barracas.

A auto-organização do movimento também gera novos processos educacionais. Como todos são companheiros, todos devem assumir alguma tarefa na ocupação. Surgem Comissão de Segurança, Comissão de Recepção de novos ocupantes, Comissão de Cadastro, etc... A partir destas comissões, cada companheiro aprende a se auto-organizar, a se auto-disciplinar, a desenvolver estratégias para melhor efetivar a luta de forma coletiva. A participação e a decisão coletiva faz com que os sem-tetos em cada luta se eduquem para saírem fortalecidos e experientes para outras lutas.

A ação dos inimigos também é altamente educativa. Ao se organizar, os sem-tetos passam a perceber quem são os seus inimigos e os inimigos do povo. Quando a polícia não permite a entrada de comida e água, quando agride um dos ocupantes, quando a justiça advoga contra a moradia como um direito para todos, quando o governo se posiciona contrário às lutas do povo, os sem-tetos percebem na prática que a polícia, os juízes e os governantes estão do lado das classes dominantes e que o Estado não passa de um ferrenho instrumento de dominação dos ricos.

Estes processos educacionais informais ocorrem de forma mais efetiva quando é estimulado nos espaços orgânicos do movimento. A ocupação do Conjunto Vera Cruz II nos mostrou mais uma vez que a auto-organização popular é capaz de contribuir para a formação de uma nova consciência popular. Miremos o seu exemplo!


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