arquivos dos protestos globaisarchives of global protestsRelato sobre manifestação anti-BID
Por Hilda Sverk 03/04/2006 às 01:16 | brasil.indymedia.org
Era 1º de abril e não era mentira: centenas de pessoas ocuparam as ruas contra o capital.
No dia 1º de abril deu-se início às manifestações de rua contra o BID, compondo parte das atividades programadas contra a vinda do banco a BH.
Estavam presentes centenas de pessoas, entre elas integrantes do MST, MAB, Via Campesina, IHG, CLPL-BH e autônomos. Carregando faixas, tocando batucada, colando cartazes, distribuindo panfletos, os manifestantes convergiram na Praça Sete às 10h e partiram em direção à Praça da Liberdade. Passando em frente à prefeitura, houve um desvio impedindo a marcha de se aproximar de um dos redutos dos governadores do BID: o Palácio das Artes.
Subindo a Avenida João Pinheiro os manifestantes foram barrados novamente por um bloqueio com, em média, 50 policiais do Batalhão de Choque (pelo menos os que estavam na linha de frente) munidos de escudos, capacetes, fuzis, cacetetes e armamentos próprios para conter manifestações, como sprays de pimenta e bombas de gás. A muralha de soldados, sob os gritos de "Soldado armado também é explorado!" faziam suas provocações do tipo: "Passa aqui só pra ver o que acontece!". Alguns deles não apresentavam identificação, o que prova claramente as verdadeiras intenções do Estado em relação aos que se contrapõem ao higienismo e à camuflagem promovidos pela prefeitura e pelo governo do estado para a recepção dos engravatados. Tudo foi esquematizado para deixar bem visto pelas comunidades, através da grande mídia, a intrusão dos grandes financiadores na cidade, um descarado desprezo aos verdadeiros problemas enfrentados cotidianamente pelos que vivem a tortura da vida mercantil no campo e na urbe. A idéia seria ocultar a discórdia dos bairros e dos movimentos às políticas de financiamento dos poderosos. Era 1º de abril e não era mentira: centenas de pessoas ocuparam as ruas contra o capital.
Um manifestante, ao questionar um policial sobre o porquê de ele não apresentar sua identificação e tentar tirar uma foto do mesmo, quase teve sua câmera quebrada a cacetete e foi ferido no braço a pancada.
Após outro desvio, seguindo pela rua da Bahia, o cordão de isolamento foi liberado e, quando tentávamos avançar (com autorização da própria polícia), um dos manifestantes foi atacado com spray de pimenta. Novamente a marcha foi barrada próximo à Praça da Liberdade, onde se situa o Palácio da Liberdade (sede do governo).
Ali a marcha ficou impedida até se dispersar e os restantes se encaminharem até a Praça da Assembléia, onde vem acontecendo atividades do Encontro Mineiro de Movimentos Sociais. Foi permitida a passagem de apenas 100 manifestantes para a praça, onde se juntaram com outros manifestantes que jejuavam desde o dia 30 de março, quinta-feira, contra o BID.
O apego à negociação e aos pedidos de concessão típico da esquerda tradicional somou-se ao despreparo e pouca ousadia dos que compunham a manifestação. A PM coordenou todos os rumos da marcha, esperando um passo em falso para descarregar seus brinquedos, rangendo os dentes contra os pequenos cordeiros que insistiam em gritar, timidamente, chavões de liberdade. Foi um ensaio para o dia 3 de abril, quando ocorrerá, no Palácio das Artes, um "banquete" entre os governadores do BID e, novamente, estaremos do lado de fora, tentando causar o mínimo de desconforto nestes que manejam as falas do mercado e do lucro. O ato acontecerá às 9h, na Praça Sete.
Nos vemos lá.
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