sexta-feira, 30 de agosto de 2002
D. Demétrio Valentini
Desta vez, a Semana da Pátria será diferente. O povo brasileiro está acordando. Já não faz sentido a celebração formal, o discurso repetitivo, o aparato solene mas vazio de sentido. O povo quer saber das coisas. E está pronto a participar.
A prova maior desta salutar mudança está no plebiscito sobre a Alca, proposto por entidades da cidadania, cujo interesse vem se alastrando pelo Brasil como fogo em tempos de seca e ventania. Já fazia tempo que não se via mais o alvoroço de professores e alunos querendo se informar, buscando subsídios, procurando explicações. O plebiscito já está cumprindo sua função antes mesmo de concretizar sua consulta. Quem estaria hoje falando da Alca, se a iniciativa do plebiscito não tivesse sido lançada?
Seu primeiro mérito consiste em convocar para o debate objetivo, em torno de questões que afetam a vida do povo e comprometem o futuro do país. Neste sentido, de cara, o plebiscito se apresenta como um válido contraponto ao "faz de conta" de uma campanha eleitoral em que os candidatos só procuram dizer o que agrada aos eleitores.
É neste contexto que encontramos a resposta sobre a validade de um plebiscito não oficial, às vésperas de eleições presidenciais, na perspectiva de mudanças profundas no próximo governo.
Em primeiro lugar, o resultado do plebiscito se constituirá numa referência importante para o Brasil. Acredito que todo presidente que quer contar com o respaldo do povo não fica indiferente e não menospreza uma iniciativa como esta. Sobretudo porque ela vem carregada de valores que são urgentes para constituírem a base de um governo que precisará enfrentar situações difíceis e desafiadoras.
O plebiscito fortalece a cidadania. Sobretudo porque ele não é oficial. Estamos cansados de coisas oficiais que na realidade não funcionam. A própria constituição começa a irritar pelo contraste entre a oficialidade indiscutível do que ela determina e a realidade diferente que o povo vive. Está escrito lá que "a saúde é dever do Estado e direito do cidadão". Muito oficial e pouco verdadeiro!
O plebiscito desperta para a percepção de problemas que afetam o país. Traz para o debate público questões que não podem ficar restritas ao âmbito de comissões técnicas, desprovidas de mandato popular e sujeitas a pressões de interesses corporativos. O que interessa ao país precisa ser debatido pelos cidadãos. Assim, o governo terá condições melhores para negociar em nome da nação.
O plebiscito costura uma coesão nacional cuja força se torna cada vez mais urgente no confronto com as pretensões hegemônicas dos centros mundiais do poder econômico.
Ao mesmo tempo, o plebiscito sobre a Alca não se opõe a uma integração dos países da América que salvaguarde as identidades nacionais, respeite os valores culturais de cada povo e encaminhe uma justa e eqüitativa participação dos benefícios da economia, resultantes dos avanços tecnológicos, dos aportes do capital financeiro e da imprescindível contribuição dos trabalhadores. Rejeitando a maneira como vem sendo tramada a Alca, a campanha continental manifesta a convicção de que "uma outra América é possível"!
Mas sobretudo o plebiscito lança o alerta mais urgente e aponta para a questão de fundo. Na verdade, o que está em jogo é a soberania dos países da América Latina. Com o Nafta e a Alca se pretende desencadear um processo de recolonização, valendo-se dos tentáculos da dependência financeira, da submissão tecnológica e da impotência militar.
O tempo de reagir é este. A maneira democrática de contrapor um outro processo é o plebiscito. Vamos a ele!
* D. Demétri Valentini é bispo em Jales/SP
É o nome de um documentário que pretende mostrar à Europa a garra e a força dos sem terra. O artista plástico piauiense Dim Sampaio resolveu retratar em um filme a vida de um acampamento de sem terra em Piauí (estado nordestino). "Bach sem terra" conta a história de um italiano à procura de um amigo que gosta de ouvir Bach. Nas paisagens do Piauí, convive com pessoas que buscam uma vida melhor. E é um acampamento de em terra que ele deixa a magia da arte para se deparar com a realidade nua e crua de um país de desigualdades. Dim Sampaio vive há quatro anos na Itália e pretende exibir o documentário, a princípio, em festivais de cinema na Itália e na França.
De 1 a 7 de setembro, todos os brasileiros podem procurar a urna mais próxima a sua casa para dizer não a Alca. As perguntas são:
Centenas de pessoas estão vivendo na "cidade de barracos", construída na Filadélfia, cidade norte-americana localizada no estado da Pensilvânia. A iniciativa foi do Sindicato dos direitos do bem-estar social de Kensington - KWRU), uma organização de famílias pobres e sem teto também do estado da Pensilvânia. O objetivo é chamar a atenção para a necessidade de alojamento para os sem teto. Estas famílias vêem na KWRU uma alternativa para lutar pelos seus direitos de moradia digna. Para mais informações e fotos, clique em www.kwru.org. Envie também sua mensagem de solidariedade.
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