19 de junho de 2005 - O Exército mexicano desocupa outros dois acampamentos em Chiapas
Faz 15 dias que sairam das instalações em Bochil e Ixtapa "São situações internas", diz Sedena diante questionamentos.
ELIO HENRIQUEZ CORRESPONSAL
Aspecto das instalações vazias no município de Ixtapa, Chiapas
FOTO Víctor Camacho
Bochil, Chiapas, 17 de junho. O Exército Mexicano retirou nos dias passados dois acampamentos que mantinha nos municípios de Bochil e Ixtapa, com o que somam quatro os postos militares desmantelados nos últimos 40 dias na região, sem que até o momento se tenha informado as razões.
Neste município, pertencente à zona norte porém muito próximo a San Andrés Larráinzar, o acampamento que estava localizado nas imediações da cabeceira municipal foi levantado no início desse mês, segundo informaram algumas pessoas que cuidam do lugar, a pedido dos proprietários.
O posto militar foi instalado em um terreno de posse de Conrado Zenteno Coronel, quem o cedeu em comodato, que já contava com uma residência de tijolo, onde além disso os soldados construíram uma dúzia de casas de madeira, todas as quais ficaram intactas.
A entrada do acampamento, um jovem controla o acesso, para o qual conserva a cerca de arame farpado colocada pelos militares quando chegaram ao lugar há 10 anos, "porque há rumores de que querem invadir", diz, ainda que permite os repórteres andar livremente pelo lugar.
Parece que os militares abandonaram o lugar sem dizer nada a ninguém, nem ao prefeito, o perredista(PRD) Daniel Morales. "Não nos notificaram nada, quiçá porque estavam em um terreno particular", disse o conselheiro, que considerou necessária a presença dos militares, pois "são parte da estabilidade" no município.
A família proprietária do prédio prefiriu não fazer comentários aos reporteres sobre a retirada dos soldados.
Um pouco mais adiante, no município de Ixtapa, se constatou que os federais também abandonaram o acampamento que mantinham nos terrenos do rancho "El Calvario", cerca da encruzilhada conhecida como "El Escopetazo", que se localiza sobre a estrada Panamericana, entre Tuxtla Gutiérrez e San Cristóbal de las Casas.
Para chegar neste acampamento é necessário percorrer os kilómetros de estrada de 'terracería', da via pavimentada que liga a Bochil com "El Escopetazo".
Antes de chegar ao posto que até os primeiros dias deste mês ocuparam os militares está o rancho cuja entrada um letreiro recebe os visitantes: "O respeito ao direito alheio é a paz". Há 500 metros, até o final, onde finaliza a terracería, estão as casas de madeira pintadas de verde oliva que foram utilizadas pelos soldados. Aqui não tem quem dê informação. Apenas um campesino que monta um cavalo, chega e comenta: "Parece que faz 15 dias que se foram os soldados, não se observa ninguém; vão ver". As casas estão intactas e em algumas há camas sem colchões e mesas de madeira. Em uma tabela que fazia as vezes de lousa se lê: "2º. BI. Em seguida: descanso, atividades, disposições, No. de ofícios".
Do lado direito se lê: "B.O. Escopetazo: programas, consignas, rolldesvs., ordem de part". No piso de cimento uma inscrição com a data de chegada dos soldados: 6º. RCM. VI-97. Em frente, na parede de uma das casas se vê a inscrição: "Plano vulcano", e a do outro lado que diz: "transmissões". O campo de basquetbol está intacto, o mesmo com as trincheras -algumas de cimento-, as instalações elétricas e um sítio em boas condições como ginásio com pesos e equipamentos rústicos.
Quase à entrada do acampamento está um pequeno monumento de concreto com uma cruz de madeira, em homenagem a alguém que faleceu no lugar. Com letras brancas sobre a cruz se lê: "Fernando Hdez Rdguez. 02-04-1983 / 21-02-2003. 2/ou. BIC".
No 11 de maio passado o Exército retirou o acampamento que teria em Los Chorros, município de Chenalhó, e na semana passada fez o mesmo em Xo'yep, no mesmo município, mas até o momento o instituto armado não tem informado nada. Quando se tem procurou a informação os chefes militares remeteram aos repórteres à Direção de Difusão da Secretaria da Defesa Nacional, com sede no DF.
Os comandos da sétima Região Militar se negaram a dar maior informação. O encarregado da 36 Zona Militar, Juan Manuel de la O, só expressou que se tratava de "situações internas da instituição".
Fontes consultadas asseguraram que destas duas últimas posições militares saíram uns 90 militares. Segundo uma investigação de campo realizada em 2004 pelo Centro de Análise Política e Investigações Sociais e Econômicas, só na zona indígena de Chiapas onde se localizam os municípios autônomos existem 91 posições militares (de 114 em todo o estado).
Com informação de Angeles Marechal
http://www.chiapas.indymedia.org/display.php3?article_id=113762