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Oaxaca, no caminho do sonho "impossível"

Oaxaca, destino anual de dezenas de milhares de estadunidenses e europeus em visita a uma das mais características cidades coloniais ibéricas do novo mundo, mesmo nome do título de marquês oferecido ao sanguinário Hernán Cortés, deixou de ser neste semestre apenas mais um rico verbete de consulta para os viajantes em Lonely Planet. A cidade, que guarda nos artísticos objetos de ouro e na pintura em couro a memória viva do antigo povo mixteca, saiu do mapa turístico para marcar seu nome como mais um dos locais da resistência global à dominação alienada, o produto standard do capitalismo tardio.

Tudo começou com um pequeno movimento de professores de escolas públicas em protesto por melhores salários e condições de trabalho nesse estado do centro-sul mexicano. Logo se tornou um novo símbolo da resistência popular global a um modo de vida que grande parte dos habitantes do planeta não quer mais. O que teria tudo para ser apenas mais uma longa e derrotada greve de professores, tão comum nos países latino-americanos onde a educação pública fundamental é apenas uma esmola para os pobres no orçamento dos estados nacionais, ultrapassou as dimensões da categoria profissional e transformou-se em um movimento político de repercussão mundial.

A partir de um pequeno grupo de professores insatisfeitos na capital, o movimento evoluiu rapidamente para uma grande greve de professores em todo o estado e daí para a ocupação das escolas e outros prédios públicos, o patrimônio da população do lugar. Não parou por aí, logo veio o apoio popular, as mães dos alunos, as famílias dos professores, a solidariedade dos professores dos outros estados, o apoio dos zapatistas, a repercussão na mídia internacional, a cobertura contínua das mídias independentes, enfim, Oaxaca é neste segundo semestre de 2006 o atual símbolo da resistência global. E não o é somente por esse amplo apelo popular em nível mundial que conquistou. Oaxaca é, neste momento, o local de maior visibilidade da luta dos autonomistas, dos trabalhadores que deram uma banana ao sindicalismo oficial no estilo CUT brasileira. A maioria da população de Oaxaca quer a renúncia do governador, a criação de um estado autônomo, a condução da própria política, a tomada do destino de suas vidas em suas mãos.

Como não poderia deixar de ser, quando o movimento deixou suas reivindicações meramente econômicas e posicionou-se como um movimento político autonomista, quando o corporativismo sindicalista do velho PRI mexicano foi rompido, e quando o apoio popular fortaleceu significativamente o movimento, o Estado, o velho e assustado Estado, reclamou violentamente o retorno à velha desordem pública. A reação armada foi e continua brutal. Mas a resistência popular também se mostrou valente, e o movimento ainda não foi derrotado mesmo contabilizando vários mortos e feridos. Dirão os pragmáticos, eles querem o impossível. Mas é o impossível que deve ser buscado, pois não há fim a ser alcançado, há somente o caminho a ser trilhado.

Brad Will, compa novaiorquino e ativista global que registrava o movimento no local foi assassinado pelo Exército de Fox. O CAVE, com quem Brad Will manteve estreita ligação, se solidariza com o movimento popular de Oaxaca e deixa aqui sua homenagem a todos aqueles que já caíram na luta pelo sonho "impossível".

Por isto convidamos a todos e a todas para um evento na Cinemateca de Santos, vamos assistir o vídeo "no fear" sobre a luta antiglobalização ao redor do mundo. E discutir sobre as alternativas de luta aqui na baixada santista, será nesse sábado as 18 hs. O evento tem por objetivo debatermos alternativas no avanço do capital e o impacto ambiental deste.

Pensar globalmente, agir localmente. Por um mundo em que caibam vários mundos.

Em memória de Brad Will e em solidariedade a Oaxaca, convidamos a todos e todas a construir um novo mundo.

Cinemateca de Santos: rua Xavier de Toledo, 42, Campo Grande


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