Se identificam como Thomas, Andreas e Ralph, e foram usuários da estratégia Black Bloc, que lutou contra a polícia e o Estado em Gênova, os quais garantem que Carlo Giuliani também era adepto desta tática. Por motivos de segurança, não deixam que tirem fotografias suas, porque advertem que a repressão está generalizada. Os três usuários do Black Bloc explicam os objetivos dos métodos que utilizam, e valorizam as experiências de Gênova.
De onde surgiu o nome Black Bloc? Podemos falar de uma organização ou é um movimento autônomo?
É verdade que o Bloc rebuscou uma experiência ocorrida na Alemanha, nos anos 80, quando uma boa parte da esquerda radical autônoma alemã se vestia desta forma... de preto, e levavam capuzes e máscaras pretas para os enfrentamentos com a polícia. Era o desejo de participar de uma cultura política, ou talvez, uma subcultura. Nunca existiu o Black Bloc como organização. Ali convergiram pessoas de diversos países que se uniram com a idéia de atacar a Zona Rossa como repúdio à globalização capitalismo e ao próprio Capitalismo.
O que vocês valorizam do ocorrido em Gênova?
Estava bem claro que uma parte da manifestação atacaria a Zona Rossa e que também iam atacar símbolos da zona capitalista como BANCOS, GRANDES COMÉRCIOS ou MULTINACIONAIS. A ação de Gênova foi um êxito porque convergiram três formas diferentes de luta, apesar do preço altíssimo que foi pago, um morto e centenas de feridos. Mas, mesmo assim, foi mostrado um claro objetivo de atacar os símbolos da globalização, o Capitalismo e o poder da classe dominante.
O verdadeiro debate está sendo transferido para o âmbito da violência/não-violência. Está sendo desvirtuado?
É importante ver que é uma maneira de dividir a luta: alguns grupos antiglobalização partem da premissa que houve infiltração policial, e que não querem admitir que existe gente disposta a este tipo de luta contra a globalização. É provável que o fundamento deste debate seja que nós queremos DESTRUIR o sistema capitalista por completo, e muitos dos grupos que fazem estas críticas não queiram mais do que reformas. É certo que há um debate sobre a discussão sobre ação direta "roubar a cena" dos debates sobre globalização, mas em Gênova houve um contracongresso e os media não mencionaram nada sobre isso, tal e como fazem habitualmente. Só através da ação direta podemos romper com o bloqueio da mídia. Fica claro para nós que a questão principal é lutar para convencer as consciências, para criar várias consciências anti-capitalistas. Portanto, qual é o resultado da ação direta? As classes dominantes já não sabem nem onde fazer a sua próxima cúpula, e vão ter que ir até as Montanhas Rochosas do Canadá. A classe dominante tem que esconder-se da população e está sendo, ultimamente, "dominada". No fim, tem que se esconder num lugar isolado do mundo porque as manifestações sempre estarão presentes.
Vendo estas perspectivas de criminalização, que tipo de coordenação o Black Bloc vai levar à cabo?
As cúpulas e as ações que ocorrem são apenas momentos de uma luta permanente. Se trata de um luta política no interior do movimento. Só em alguns casos é necessário que esta ação direta seja requisitada. O movimento anti-capitalista é um movimento muito jovem e tem conseguido integrar setores muito amplos, desde cristão que lutam por abolir a dívida externa até organizações realmente anti-capitalistas. A tentativa, por parte da classe dominante, de inserir o debate violento/não-violento para dividir o movimento é velha. Temos que lutar dentro do movimento com todos os instrumentos de debate e discussão para que o movimento anti-globalização se torne anti-capitalista e que a resistência local se torne uma resistência internacionalista de caráter anti-capitalista.
Houve infiltração policial no Black Bloc?
É certo que a polícia se infiltrou no Black Bloc com dois objetivos: identificar os usuários e provocar tumultos. Isto se traduziu em ataques à pequenos comércios e carros, que NÃO É a cultura política dos usuários do Black Bloc. Portanto, quando isso aconteceu, os Black Bloc'ers responderam parando essas agressões e dizendo que essas não era a nossa maneira de atuar. No entanto, houve infiltração policial SIM, mas era parcial porque havia 30 ou 40 policiais que não podem dirigir toda a atuação de uma massa de quase 3000 pessoas, os quais agiram de forma clara e organizada os símbolos do capitalismo e da globalização, e não de uma maneira desorganizada e caótica.
Os usuários do Black Bloc mostram bem claramente a necessidade de confronto direto contra o Capitalismo. Também nas suas respectivas cidades ou apenas nas cúpulas?
É muito justo que se trate de vincular a luta e a mobilização contra esses eventos com uma luta diária contra os efeitos e consequências do Capitalismo. Organizar a luta diária contra os ajustes sociais para vinculá-la como luta popular contra os símbolos e contra o próprio sistema capitalista. Estamos presentes nas fábricas, nos conflitos trabalhistas, estamos presentes na luta ecologista contra os resíduos nucleares e na Alemanha, por exemplo, estamos MUITO presentes nas jornadas anti-fascistas.
Está claro que o Black Bloc se desloca para à linha de frente nas grandes cúpulas. Há uma coordenação ou o movimento é espontãneo?
É correto que existe a necessidade de uma coordenação ativa mas o movimento é ainda muito recente, disso resulta uma coordenação de fase inicial. Se bem que antes da reunião do G8 houve reuniões para coordenar logística e comunicações. Mas hoje em dia, devido à repressão, não nos é possível aprofundar este aspecto. O chamado Black Bloc está se ativando de uma maneira organizada e inteligente, estão acontecendo reuniões para evitar que alguns manifestantes se tornem em um "perigo", para evitar atitudes irresponsáveis
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