A quinta edição do Fórum foi a mais à direita e institucionalizada de todas. Não por acaso, as duas principais atividades foram ao redor dos presidentes Lula e Chávez, da Venezuela
Esse foi o Fórum Social Mundial (FSM) mais despolitizado de todos, com o privilégio absoluto para discussões secundárias, deixando de lado a possibilidade de construir ações unitárias internacionais de luta. Na edição de 2002 foi possível articular, ainda que de forma paralela, a luta contra a Alca no Brasil e na América Latina. Em 2003, se organizou, também de forma paralela, a luta internacional contra a guerra no Iraque. Desta vez, as reuniões internacionais de lutas foram bem mais fracas.
A organização do FSM também serviu a este propósito, com a fragmentação das atividades por toda a região portuária, deixando assim de ter um ponto de concentração (como foi a PUC nas edições passadas). Para piorar, as discussões se deram em sua maioria em grandes tendas fechadas, que se transformavam em um forno no calor escaldante de Porto Alegre nesta época do ano. Por fim, a direção do FSM resolveu realizar o próximo FSM em diversos países do mundo ao mesmo tempo, consolidando assim a tendência da fragmentação do evento.
Complementaridade
Cada vez mais existe uma complementaridade entre o Fórum de Davos e o FSM. O primeiro, que reúne capitalistas e governos de todo o mundo, discute as linhas centrais da economia mundial e temas que possam ser usados para disfarçar os planos neoliberais, como "o combate à fome", de Lula. O FSM discute as políticas sociais compensatórias e gera ilusões nesses planos.
Não por acaso, Lula, que esteve mais uma vez presente em ambos, propôs um encontro entre representantes dos dois Fóruns (a princípio marcado para 9 de julho em Paris). Seria a expressão institucional da complementaridade que já existe hoje. Houve protestos e crise na direção do FSM por conta desta decisão, mas nada que impedisse essa tendência.
A manobra de apoio ao governo Lula
A demonstração mais clara da institucionalização do FSM foi a palestra de Lula. Na edição anterior do Fórum no Brasil, Lula era a grande figura popular. Agora, com o seu desgaste em amplos setores da vanguarda e das massas, toda a preocupação do governo era como evitar as vaias.
Armou-se então uma gigantesca operação que envolveu a direção do FSM, os governos federal, estadual e municipal, a Polícia Militar, a CUT e o MST. No ginásio Gigantinho, onde se realizaria o ato às 9 horas, os portões foram abertos às escondidas três horas antes, para milhares de pessoas arregimentadas pela CUT e pelo MST, vestindo camisas com o slogan "100% Lula". Dessa forma, ocuparam quase todo os lugares do ginásio, deixando poucas vagas para possíveis opositores (todas longe do palco). Toda e qualquer pessoa, por fora deste esquema, que desejasse entrar, tinha que enfrentar uma longa fila de mais de um quilômetro. O que impediu a entrada no ginásio de uma manifestação organizada.
Um grande aparato policial foi mobilizado para intimidar e reprimir possíveis opositores. Uma jornalista, assaltada nas imediações, procurou ajuda de um policial que lhe respondeu: "estou aqui para proteger o presidente Lula".
Mais longe do tal "pluralismo" apregoado pelo FSM impossível. A institucionalização do FSM trouxe consigo a cara feia da repressão, das manobras vergonhosas para proteger o governo Lula.
Apesar de tudo, a oposição ao governo
O governo saiu arranhado do Fórum. Uma mobilização, convocada pelo Conlutas, com a participação de 1.500 pessoas levadas pelo PSTU e 500 ativistas do P-SOL, extremamente aguerrida, cantou palavras de ordem como "Ô Lula, que papelão, não acabou com a fome e dá dinheiro pro patrão". Um boneco, feito pelos metalúrgicos de São José dos Campos (SP), com a faixa "Lula traidor", foi queimado, e a foto divulgada internacionalmente.
No ginásio, um grupo de cerca de cem pessoas vaiou Lula, mesmo abafados pela claque da CUT e do MST. Dois ativistas de um grupo de oposição ao governo foram presos e retirados à força do ginásio.
Apesar de toda a operação abafa da direção do FSM e do governo, a oposição à Lula se manifestou em outros momentos. Na palestra do escritor José Saramago, uma das mais concorridas do Fórum, Luís Dulci, ministro de Lula, levou uma vaia ensurdecedora ao defender o governo. No ato de Chaves, Luís Marinho, presidente da CUT, foi vaiado e não conseguiu falar.
O Fórum da Conlutas
O contraponto ao Fórum oficial, institucionalizado, foi o verdadeiro Fórum paralelo organizado no ginásio Camisa 10, pela Conlutas. Ali se realizaram os Encontros Nacionais da Conlutas e da Conlute. Também sediou debates de grande importância sobre o governo e as experiências da esquerda com a democracia burguesa.
FONTE: http://www.pstu.org.br
wsf 2005 – wsf – www.agp.org (archives) | www.all4all.org