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Relatório do 26 de Setembro em Belo Horizonte

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Carnaval de Luta, Resistência e Sangue

Terça-feira, 26 de Setembro de 2000 - Belo Horizonte. Os manifestantes começaram a concentrar-se às 13:00 horas na Praça 7 de Setembro, no centro comercial de Belo Horizonte para iniciar o Carnaval Contra o Capitalismo, uma festa que envolve luto e luta contra a opressão desse sistema, também contra a fome e contra a miséria; lutando pela liberdade, igualdade e justiça entre todas as pessoas e povos do mundo, continuando assim, a luta iniciada pela AGP - Ação Global dos Povos - discutida e apoiada por vários grupos de muitas ou nem tantas posições comuns, para lutar pelo mesmo objetivo: a morte desse sistema cruel.
Em apoio à Praga, na República Checa, se reuniram um número de 200 à 300 manifestantes em Belo Horizonte, objetivando fazer um dia de festa cultural contra toda a injustiça causada pela ganância perpetuada pelo Capitalismo. Por parte dos manifestantes, foi uma manifestação pacífica. Mas por parte da repressão, não podemos dizer o mesmo.

A Manifestação

Com a chegada dos manifestantes, deu-se início a distribuição de panfletos, as conversas, a festa, o barulho. Às 13:00 horas já haviam um bom número de pessoas na Praça 7, e o clima era muito bom: festa & resistência.
Começaram-se as distribuições de panfletos, nas paredes dos prédios foram afixados cartazes com dizeres em sua maioria contra o FMI/BM, e outros tantos contra as eleições, video-vigilância, racismo/machismo/etc.. Panfletos sobre diversos assuntos também foram distribuídos. Abaixo deste relatório, estão alguns panfletos sobre o s26.
As pessoas na manifestação já estavam interagindo bem, gritando palavras de ordem contra o Capitalismo, fazendo bastante barulho, esperando apenas o boneco de manipulação, e o grupo Panela de Expressão.
Às 15:00 horas, aproximadamente, chegaram as pessoas que haviam confeccionado o boneco, que possuia as característas da Morte (uma caveira de preto) com os escritos na frente e atrás: "FMI" em meio a tinta vermelha. Com o pessoal já no meio dos manifestantes, às 15:10 todos saíram em caminhada para a Rua Espírito Santo, como estava planejado, seguindo pela Rua Rio de Janeiro, depois Goitacases, depois na própria Espírito Santo.
Nesse caminho, todos gritavam frases contra o Capitalismo, contra a exploração e a miséria, falando da manifestação como uma expressão pacífica, chamando assim, a atenção das pessoas que passavam e de quem estava trabalhando nas lojas. As portas das lojas iam se fechando a medida em que andávamos e nos aproximávamos delas, tudo isso por medo de algo acontecer, porém nada foi feito contra todas essas lojas.

Resistência Pacífica

Chegando na Rua Espírito Santo, todos se prepararam como previsto. Sentía-se falta do Panela de Expressão, que acabou por não aparecer no protesto, mas tudo correu bem. A Rua Espírito Santo foi fechada no cruzamento com a Goitacases, o que ocasionou o fechamento total do fluxo de carros naquele local, podendo estes, seguir pela Rua Goitacases fazendo o retorno.
Com a Rua Espírito Santo fechada, pessoas - mais ou menos 12 - foram amarradas entre si com uma fita adesiva, para bloquear a rua junto aos cones. Enquanto isso, outras pessoas iam tomando a Rua Espírito até a esquina com a Rua Tupis.
Foram feitas pinturas com giz e tinta na rua contra o FMI/BM, e foram iniciados gritos de protestos em frente ao "Citibank", que foi tomado como um representante do sistema Capitalista. O quarteirão havia sido tomado, e as pessoas começaram a brincar com bolas, chutando-as entre si. Estavam acontecendo várias ações durante o protesto naquele local.
Logo, chegaram os policiais de trânsito para tentar desviar o trânsito, ou mesmo controlá-lo - é importante avisar, que ninguém da prefeitura, polícia, ou Detran haviam sido avisados do protesto. Nada demais podia ser feito.
Em dado momento, o clima ficou um pouco mais tenso, pois foi percebido que as pessoas que passavam, assim como os motoristas de carros e ônibus, não estavam se desviando do local. Percebeu-se que a manifestação estava fazendo com que as pessoas ficassem com raiva por se estar atrapalhando o trânsito. Em coletivo, foi decidido que um terço da rua seria liberada, o que foi imediatamente feito.

A Polícia

Logo, mais policiais chegaram, e já preparados para um conflito com os manifestantes. A todo momento, haviam gritos de que a manifestação era pacífica, e todos estavam apoiando a resistência também pacífica.
Pouco a pouco os policiais foram tomando as saídas do quarteirão da Rua Espírito Santo, e ainda nos fechando na parte que estava aberta para os carros passarem. Os manifestantes se viram fechados em um lado da rua, e todos procuraram se unir em um só bloco.
Não se chegou a se fazer esse bloco, já havia começado a agressão. Nós estávamos organizados em dois blocos, os da parte de cima da rua, e os de baixo. Todos ainda apoiando a posição de pacifismo. Os policiais estavam provocando-nos com ofensas, como: "Você não é homem!", "Vamos pegar aqueles alí!", "Vamos bater em todos eles!", e outras frases e diálogos nessa linha.
Alguns manifestantes, os responderam, até mesmo na tentativa de tomar posição da rua, e então foram agredidos todos os que lá estavam: as pessoas que estavam amarradas, e outros próximos. Estes no lado de cima da rua.
Ao ouvir os gritos, todos os manifestantes tentaram se organizar em um só bloco para resistir pacificamente, mas já era tarde. Enquanto as pessoas que estavam na parte de baixo da rua estavam subindo, muitas pessoas já estavam apanhando da polícia, e um companheiro já havia sido atingido por uma cacetada na cabeça, e estava fugindo do bloco de cima, sendo carregado por outros manifestantes. Ele sangrava muito, mas já sabemos que ele já está bem, mas com alguns pontos na cabeça.
Muitas outras pessoas apanharam, e pelo que parece, a maioria dessas pessoas eram mulheres. Algumas pessoas machucadas se afastavam do bloco, outras permaneciam. Houve muita correria em alguns momentos, por que alguns dos policiais montados em cavalos avançavam para cima das pessoas que tentavam continuar sentadas no chão sem resistir violentamente.
Nesses momentos de investida da polícia, algumas pessoas tentavam ajudar na permanência de todos juntos, mas era praticamente impossível. A manifestação permanecia dividida em dois blocos, o de baixo era menor ainda, e era lá onde os policiais estavam pegando os manifestantes, olhando documentos, apreenderam o megafone que os manifestantes utilizaram.
Toda a situação era extremamente tensa, mas as pessoas continuavam resistindo pacificamente mesmo sabendo que nosso número era muito menor, e que pouco podíamos fazer para denunciá-los, além de nossas fotos, e gravações, e de alguma parte da grande imprensa (ver o ponto "Imprensa" no final deste relatório). Os policiais tendo muita força, e sabendo que estávamos resistindo pacificamente, nos atacavam a cada instante, além de tudo isso, eles ainda não possuiam identificação. Manifestantes viram os policiais retirando os nomes da farda durante o protesto.

A União

Todo o espírito da manifestação foi de solidariedade. Esse espírito contagiou a todos os presentes, e o objetivo era desde a solidariedade às lutas em Praga - que na manifestação em Belo Horizonte já se estava sabendo o que ocorria -, até à nós mesmos.
Durante os ataques da polícia, e a nossa resistência, os manifestantes permaneceram unidos, de forma que todos estavam prontos para socorrer à todos.
Essa atitude das pessoas presentes foi muito coerente com o que foi discutido em todas as reuniões, e até mesmo no ato precedente à esse massacre cometido pela polícia, durante a concentração na Praça 7. Todos procuravam estar sempre juntos, apenas não estando quando a polícia prendia as pessoas na parte de baixo da rua (esquina com Rua Tupis).

Deslocamento

No bloco de cima da Rua Espírito Santo, em certo momento, foi decidido juntar-se ao bloco de baixo. Até então, apenas os manifestantes que estavam abaixo tentavam se unir aos de cima. E a idéia era deslocarem-se para a Praça 7 de Setembro novamente, para continuar o protesto.
Ao se juntar, os manifestantes decidiram realmente seguir para a Praça 7, pois não se conseguia mais ficar naquela situação, os policiais ameaçavam massacrar à todos naquele local.
Seguiu-se então para a Praça 7, pela Avenida Afonso Pena. Ao chegar na praça, percebíamos que muitos dos manifestantes haviam se dispersado, e talvez não mais aparecessem.
Na Praça 7 de Setembro, foram queimados "santinhos" de candidatos à prefeito e vereador, e uma bandeira dos Estados Unidos com alguns escritos sobre cumplicidade com o FMI, e outros sobre opressão, imperialismo, etc..

Final da Manifestação

Aos poucos as pessoas foram se dispersando em pequenos grupos, já que houve uma informação de que os policiais estavam por todas as ruas em volta de onde os manifestantes estavam, apenas esperando para pegar alguns dos manifestantes que estivessem sozinhos, pois já haviam marcado alguns rostos, etc..

Imprensa

enas para completar o relato, é necessário falar sobre a participação da grande mídia na manifestação.
Para manter a posição de resistir pacificamente, nas reuniões para a preparação do s26, foi decidido que entraríamos em contato com um jornal escrito, e um canal de TV que atinge um grande público. Procuramos os veículos de informação que possuem um passado menos ruim para divulgarmos a manifestação.
Entramos em contato com o "Jornal O Tempo", e com a "Rede Minas de TV". Dos dois, "O Tempo" apareceu no final da manifestação, quando estávamos na Praça 7 pela segunda vez. A Rede Minas não apareceu em nenhum momento, mas em compensação, o canal "Super" ou 23 - comunitário, mas infelizmente é da TV à Cabo, digo infelizmente por que poucos tem TV à Cabo - fez uma pequena cobertura (que parece ter ficado bastante coerente) da manifestação enquanto estava na Praça 7.
O Jornal "Estado de Minas" também estava no local fazendo a cobertura enquanto acontecia a correria na Rua Espírito Santo. Porém, esse jornal tende a ouvir apenas o lado que mais convém à eles, e quando não, muda completamente as informações passadas.
Mas uma das mais importantes coberturas que tivemos foram dos manifestantes que estavam filmando, fotografando, e também dos que deram relatos à Rádio Favela FM, uma rádio comunitária de Belo Horizonte, que estava cobrindo o evento ao vivo.

Conclusão

Por fim, apenas ressalto que apesar de todos os problemas enfrentados a manifestação contra o Capitalismo foi por demais válida. Trouxe-nos uma visão de como será daqui para frente nas lutas travadas nas ruas. Apenas podemos concluir, que se houvéssemos resistido violentamente, pelo número de pessoas que haviam na manifestação, seríamos massacrados pela força repressora.
A maioria dos objetivos foram cumpridos da forma que foi possível. Resistimos contra o sistema Capitalista, e seus defensores. Lutamos nas ruas com as armas que possuíamos sem nos render. E vencemos a luta de divulgação da manifestação e das idéias contra o FMI/BM e outros orgãos repressores, e farsas dentro deste sistema Capitalista.
E feliz, neste 26 de Setembro posso dizer que foi concretizado parte do caminho ao objetivo de Globalizar a Luta contra a Globalização da miséria, da ganância, da desigualdade! é chegada a hora de levantarmos juntos, cada um com seus meios, para livre e espontaneamente, resistir e lutar contra a injustiça em todo o mundo.
No Espírito de Praga;

E P
26 de Setembro de 2000

Alguns dos Panfletos Distribuídos

Haviam, como já foi dito, vários panfletos abordando diversos assuntos. Abaixo, estão colocados alguns deles, mais direcionados ao Capitalismo. Se houver interesse em se conhecer os outros panfletos, favor entrar em contato conosco.

26 de Setembro: Carnaval Contra o Capitalismo

Estamos cansados de toda essa mentira sustentada por Governos opressores. Estamos fartos de ver, sentir, e quase tocar essa fome que assola os povos pobres do mundo. é hora de levantar, de gritar, de mostrar que estamos descontentes, que estamos VIVOS! Dia 26 de Setembro é o dia marcado para nosso grito uníssono. Vamos juntos cantar e festejar a morte do Capitalismo que a cada dia nos esmaga, destrói nossas relações, diminuindo-nos de humanos dotados de sentimentos à consumidores de porcarias de enorme variedade.
Dia 26 de Setembro será mais um dia de resistência! Na cidade de Praga, na República Checa, se reunirá o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BM (Banco Mundial), principais responsáveis pela miséria dos povos do mundo. Durante essa reunião acontecerá uma grande manifestação que puxará outros tantos protestos em várias cidades do mundo, mostrando o descontentamento das pessoas para com o Capitalismo.
Em Belo Horizonte também sairemos às ruas. Nos encontraremos na Praça 7 às 13:00 horas para iniciar nosso "carnaval contra o capitalismo", e de lá iremos para a Rua Espírito Santo entre Goitacazes e Tupis, para continuar nossa manifestação pacificamente, mostrando que tudo que queremos é a união dos povos e o fim da exploração. é preciso fazer aflorar a solidariedade entre as pessoas, para juntos construirmos uma sociedade em que cada um decida por si e para o coletivo, sem precisar de políticos parasitas defensores do dinheiro das classes poderosas. Una-se a nós para lutar por justiça e igualdade!

-X-

Dia 26 de Setembro a cidade de Praga, na República Checa, vai sediar um encontro entre o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Estas instituições são responsáveis pelas chamadas políticas de austeridade, políticas de cortes na área social e redução da atuação do Estado em áreas como saúde e educação, que na lógica neoliberal devem ser cada vez mais deixadas a cargo da iniciativa privada. O neoliberalismo tem lançado à miséria populações inteiras ao redor do planeta, computadas como indesejáveis "encargo social", abandonadas em meio à circulação mundial do capital especulativo, aos movimentos das bolsas de valores, ao avanço impiedoso das novas tecnologias. Mas não é preciso ir longe para constatar os efeitos nocivos de um capitalismo predatório e sem controle. Nas cidades brasileiras multiplicam-se os grupos de indigentes, agrava-se o já intolerável nível de desigualdade social, a violência. Flexibilizam se os direitos adquiridos pelos cidadãos.
Em todo o mundo a ordem é capitalizar os lucros e socializar os prejuízos. Começa a surgir a consciência por parte de grupos e movimentos sociais de que é preciso globalizar os esforços de resistência contra o capitalismo globalizado. Reunidos sob a sigla AGP - Ação Global dos Povos - estes grupos, numa iniciativa apartidária e descentralizada, estão se organizando para responder à reunião de Praga com um protesto mundial em suas respectivas regiões e localidades. Agir localmente, pensar globalmente.
Em Belo Horizonte a concentração para as manifestações acontecerá na Praça 7, às 13 horas, no dia 26 de Setembro. Reuniões aos sábados na Praça Afonso Arinos, às 15 horas.
Contra o capitalismo globalizado, globalizemos a resistência.

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-xx- CAP - Coletivo Acrático Proposta -xx-
-xx- manif@independente.net -xx-
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